quarta-feira, 18 de junho de 2008

A GLOBALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E A ORGANIZAÇÃO EM REDE

No contexto atual, os movimentos sociais passam a formular novas maneiras de atuação, na busca de denunciar os pontos negativos e excludentes das políticas da globalização neoliberal. Disso resultou o surgimento dos movimentos sociais globalizados e das redes de movimentos sociais, que mesmo com nuances de ênfase programática, apresentam basicamente as seguintes proposições : 1) direitos humanos, ambientais e sociais; 2) fortalecimento da democracia representativa e participativa;3) equidade (por uma nova ordem econômica internacional; 4) sustentabilidade sócio ecológica; 5) prosperidade como resultado da satisfação das necessidades humanas e ambientais, e 6) controle da especulação e da ganância do capitalistas.
As redes de movimentos sociais retomam a conceituação de solidariedade internacionalista e reciprocidade como afirma o sociólogo português, Boaventura de Sousa Santos, criando um novo internacionalismo, diferente das estruturas rígidas das organizações sociais do século XX.
As redes se utilizam das mesmas “armas” da globalização corporativa, na tecnologia da informação e comunicabilidade, no entanto com outro enfoque, na busca de um contraponto as ações predatórias da globalização e na formação de nova consciência e fundamentos na formulação de uma estratégia altermundista.
As redes de movimento sociais atuam de forma disseminadora de seus propósitos na medida que seus questionamentos ganham um maior alcance, graças a utilização da tecnologia da informação, tendo como exemplo a revolta dos Zapatistas contra o governo do México, apesar de ter surgido numa localidade sem recursos, ganhou uma dimensão global na medida que o trabalho feito por ONG´s mexicanas e internacionais, reproduziram os pronunciamentos do Comandante Marcos, líder do Exercito Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) através da internet.
Essa lógica de atuação foi fundamental para a organização das manifestações de Seattle (1999), permitindo o estabelecimento de importantes alianças entre ecologistas, sindicalistas, anarquistas, igrejas, grupos de defesa do consumidor e lideranças de ONG´s, advindas de diversos lugares do mundo, ocasionando na oportunidade uma mobilização surpreendente e um marco no enfrentamento das políticas hegemônicas do pensamento global financeiro.
Esse novo paradigma de movimento social tem as seguintes características (Arquilla & Ronfedt, 2001 apud Siqueira, C.E) :

“Organiza-se de forma policêntrica (muitos líderes ou centros de liderança), segmentar (composta por diferentes grupos) e em rede ideologicamente integrada... Os lideres deste movimento tendem a ser carismáticos ao invés de burocráticos (...) Tem flexibilidade, fluidez e autonomia. Os nós da rede estão em constante expansão e movimento e se comunicam pela internet de forma horizontalizada, tornando difícil a repressão das lideranças (...)Utiliza táticas de luta que incluem a blitz e a guerrilha estilo “enxame de abelha”, sobre objetivos negociados e pré-determinados e o ofuscamento entre ofensiva e defensiva(...) Desafia os limites e separações entre o Estado e a sociedade, o nacional e o internacional e tende a criar confusão entre os entes repressivos do Estado-Nação”

Cada parte da rede pode incluir um individuo, ou organização, podem estar interligados de forma firme ou não. Ainda podem existir maneiras mistas de organização incluindo redes horizontais e organizações verticalizadas, onde a estrutura burocratizada poderia ser apenas mais um nó da rede, portanto as redes de movimentos sociais assumem varias configurações e táticas de atuação.
Para se fazer uma analise da eficiência das redes de movimentos sociais Arquilla e Ronfeldt (2001), apontam cinco concepções vitais para o funcionamento destas: nível organizativo (o desenho organizativo): nível narrativo (a história que se conta): nível doutrinário (as estratégias colaborativas e métodos), o nível tecnológico (sistemas de informação); e o nivel social (os laços pessoais que asseguram lealdade e confiança mútua).
Portanto numa rede de movimentos de sucesso esses cinco níveis se articulam de forma interdependente, criando condições favoráveis às ações dos atores sociais que desempenharam o papel de fomentador e disseminador do ideário e das lutas altermundistas.
Com o surgimento do Fórum Social Mundial os movimentos sociais brasileiros acabam por assumir um papel de vanguarda ao terem a iniciativa de organizá-lo e no maior exemplo de como funcionam essas redes de movimentos sociais, como deixa explicitada um dos trechos de sua Carta de Princípios :

“Espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de idéias, a formulação de propostas, a troca livre de experiências e a articulação para ações eficazes, de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo, e estão empenhados na construção de uma sociedade planetária orientada a uma relação fecunda entre os seres humanos e destes com a Terra” (Fórum Social Mundial, 2001).

A pluralidade de pensamento e a diversidade de movimentos inseridos na luta altermundista, mesmo que estas apresentem muitas vezes visões de ênfase ou enfoque diferentes, representa algo novo em relação a problemática dos efeitos negativos da globalização, expondo um novo ator na Ordem Mundial, até agora pouco estudado e contemplado pelas teorias das Relações Internacionais, até por está ser um fenômeno muito recente no contexto histórico mundial.

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